Imagine só um veículo pessoal sobre duas rodas que promete ser uma alternativa mais rápida para você chegar ao seu destino e que, de quebra, soluciona o problema da poluição e do congestionamento nas grandes cidades.
Imagine também John Doerr, o lendário investidor da Amazon, Sun e Google, dizendo que as vendas deste veículo baterão a marca de US$ 1 bilhão mais rápido do que qualquer outra empresa na história. Imagine executivos da FedEx e Amazon falando maravilhas sobre a invenção e o Correio dos Estados Unidos querendo colocar 20% de seus carteiros entregando correspondência em cima destes veículos antes mesmo deles serem lançados.
Passaria pela sua cabeça que o Segway poderia não ter mercado? Afinal, este revolucionário scooter criado pelo inventor serial Dean Kamen custou US$ 100 milhões para ser desenvolvido. Segundo as previsões de Kamen, a empresa produziria 10.000 Segways por semana, em 2002.
O Segway pesava 80 quilos, custava mais de US$ 3.000 (chegando a US$ 7.000 para alguns modelos) e dificilmente alguém conseguia pilotá-lo com segurança sem fazer um treinamento prévio. Em alguns países, o Segway foi classificado como veículo para uso em estradas, exigindo licenciamento e carteira de motorista para quem quisesse conduzi-lo. De 2001 a 2007, a empresa vendeu apenas 30.000 unidades. Será que Kamen e Doerr não prestaram atenção aos sinais de que a sua ideia de negócio não teria mercado? Alguns experimentos prévios poderiam ter feito uma grande diferença.
Não existe mercado para uma ideia. Para entrar no jogo, o empreendedor precisará de um produto ou serviço, ainda que na versão beta. E você só saberá com certeza se existe mercado para o seu produto na hora que colocá-lo à venda. Até lá, a única coisa que terá são suposições que precisarão ser validadas pelo laboratório do mercado.
Dá até para dizer que a grande contribuição do empreendedor para economia é testar hipóteses sobre modelos de negócio, assim como um cientista faz com as leis da natureza. Isso significa que o empreendedor deverá criar experimentos para validar, pouco a pouco, as premissas que embasam seu modelo de negócio. Desta forma, ele irá descobrindo aquilo que funciona e melhorando aquilo que não funciona. O segredo é seguir fazendo pequenos experimentos e validando, pouco a pouco, as premissas do modelo de negócio.
Quando um experimento dá errado é importante não tirar conclusões precipitadas já que uma série de coisas podem ter acontecido que não têm nenhuma relação com o fato de existir mercado ou não para o produto. Dica: conduza vários experimentos, colete informações e analise os resultados no seu conjunto para validar as premissas básicas do seu negócio.
Vinicius Licks é Coordenador da Graduação em Engenharia Mecatrônica e especialista em empreendedorismo do Insper.
Fonte: Exame.com