“O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”, frase de Winston Churchill. Fracassar não é sexy. Ninguém gosta de errar, pode ter certeza! Entre empreendedores é comum os mantras “fail fast” e “fail better”, que remetem a abraçar o fracasso e ser mais rápido ou melhor em cada erro. Mas o que não está tão explícito nessas frases é que fracassos não são nada bons. A perseverança e os aprendizados associados com os erros é que são.
A habilidade de se levantar, se adaptar e aprender com os percalços do caminho é, na minha opinião, a mais importante para quem se propõe a empreender, uma vez que os fracassos virão com certeza.
Mas como cultivar essas habilidades quando nos sentimos incapazes e somos dominados pela vergonha? Os empreendedores que apoiamos já passaram por isso e colhemos aqui alguns conselhos que podem ser úteis pra você:
1. Ter um momento ruim é muito menor que toda uma história de vida
É importante ter cuidado para entender que o fracasso se deu em um dos aspectos da sua vida, e não se deixar achar um completo fracasso. Então mantenha a sua autoestima elevada!
Wilson Poit, fundador da Poit Energia, que em 2012 foi vendida para seu competidor mundial por mais de 400 milhões de reais, conta que criou uma espécie de caixa de bons momentos. É nela que costuma guardar recordações de coisas legais que aconteceram em sua jornada como empreendedor, tais como cartas de funcionários e parceiros.
Ele diz que “ter um lugar para guardar boas recordações sobre você mesmo pode ser uma fonte de autoestima quando precisar. Podemos não dar muito valor pra uma carta legal agora, mas num momento difícil ela pode ser de grande utilidade”.
2. Pare, analise, sofra e siga em frente
É importante entender que é preciso ter um momento para pensar no que aconteceu e ter um tempo de sofrer um pouco. Mas cuidado para não sofrer mais do que o necessário! Esse período de reflexão é o que Sandra Betti chama de “balanço geral”.
Sandra é fundadora da MBA Empresarial e atua como coach de grandes executivos. Segundo ela, toda vez que nos depararmos com uma situação de insucesso, deveríamos tomar um tempo para analisar o que tiramos de bom, o que daquilo foi ruim, quais foram os aprendizados e o que não faríamos de novo. Depois disso, bola pra frente!
Don Shula, um dos mais prestigiados técnicos de futebol americano dos Estados Unidos, criou uma prática que ficou conhecida como a “Lei das 24 horas” – uma regra para olhar para o futuro e não ficar remoendo o passado.
O técnico permitia a ele mesmo e a seu time 24 horas para celebrar uma vitória ou chorar uma derrota. Durante esse período, ele encorajava todos a sentirem suas emoções de sucesso e fracasso o mais intensamente possível. No dia seguinte, era hora de virar a página e focar toda a energia para se preparar para o próximo desafio. Sua filosofia é que “se você mantiver seus sucessos e fracassos em perspectiva, você se sairá melhor no longo prazo”.
3. Reconheça que está no buraco, pare de cavar e peça ajuda
Muitas vezes, diante de um fracasso, tendemos a nos isolar por vergonha e por medo de julgamento dos outros. Nesses momentos é importante, em primeiro lugar, reconhecer o fracasso. Segundo Poit, “você só sai de um buraco quando você reconhece que está no buraco, para de cavar e pede ajuda para sair dali”.
Pra pedir ajuda, vale recorrer a amigos, conselheiros, terapia ou coaching. E, como conta Marília Rocca, vice-presidente da Totvs, conversar com quem já passou por isso: “No meio do caos, não se afunde ainda mais, busque paz de espírito em outras áreas da vida em que as coisas vão bem como nos amigos, hobbies ou família”. O importante é não ficar paralisado. Peça ajuda e faça um plano de ação para sair dessa situação.
4. Entenda que as cicatrizes são fundamentais para a construção de um sonho realmente grande
Thomas Edison fracassou dez mil vezes durante a jornada para inventar a lâmpada elétrica. Ele costumava dizer que havia descoberto dez mil jeitos de fazer uma coisa que não funciona e que não se sentia vencido porque todo erro era mais um passo à frente. É dele também a famosa frase: “Muitos dos fracassos da vida são pessoas que não percebem o quão perto estavam do sucesso quando desistiram”.
“Normalmente não aprendemos com o erro dos outros. Os sábios sim, o que não é o meu caso”, diz Eduardo Ourivio, fundador do Grupo Trigo, dono das marcas Spoleto, Koni e Domino’s no Brasil. “Por isso”, ele continua, “as cicatrizes são fundamentais para a construção de um sonho realmente grande. Pega o exemplo do Spoleto: só conseguimos chegar ao modelo após muitos erros e acertos, pois não repetiremos aquilo que nos causou problemas, e aprendemos para evitar novos erros”.
Pode não ser fácil olhar as oportunidades no começo, pois isso requer uma mudança de paradigma. Em vez de olhar o fracasso de forma negativa, tente adotar uma associação mais positiva. Tornar esse tipo de pensamento um hábito pode ajudar a quebrar antigas crenças.
5. Sempre tenha o seu objetivo final em mente
Sonhe grande, e deixe que ele te energize. Invista tempo em exercícios de visualização, fica mais fácil manter a energia e a paixão quando enxergamos onde queremos chegar. Também é mais fácil colocar os obstáculos em perspectiva quando o que queremos alcançar é muito maior. O sonho te traz um propósito claro e te impede de sucumbir ao desejo de desistir.
Por último, lembre-se que qualquer fracasso só é fracasso sob uma única métrica. Muitas vezes, miramos no que vemos e acertamos o que não vemos. Basta lembrar o famoso discurso de Steve Jobs, sobre como ele conseguia conectar os pontos de todos os episódios de fracasso da sua vida profissional, e de como cada um deles contribuiu para o resultado final e quem ele havia se tornado.
Boa jornada a todos nós!
Letícia Queiroz é diretora de Apoio a Empreendedores da Endeavor Brasil.
Fonte: Exame.com
