A crise fiscal deve ser um tema recorrente entre pré-candidatos nesta eleição, já que terão um desafio grande para controlar a dívida pública. Em um clima de insatisfação econômica e insegurança política, preocupações com a economia influenciam a percepção de brasileiros com o futuro e impactam o empresariado.
Uma pesquisa da Datafolha publicada pela Folha de São Paulo, no dia 11 de junho, mostra que 72% dos entrevistados entendem que a situação econômica do país piorou nos últimos meses, ou seja. Ainda segundo o instituto, 32% dos entrevistados disseram que a economia vai piorar nos próximos meses, enquanto 26% acreditam em uma recuperação.
Na avaliação do economista Gabriel Couto, que também coordena o Núcleo de Inteligência da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp),o risco fiscal e o receio de uma nova recessão afetam a percepção do pequeno e médio empresário com a economia. “As contas públicas indicam o pior quadro da história recente e, caso não aconteçam reformas no sentido de sanar as finanças do governo por meio de corte de gastos públicos, o país caminhará para a insustentabilidade fiscal no longo prazo”, diz.
Na prática, segundo o economista, a permanência desse risco desestimula novos investimentos e contratações por parte dos empresários, que reclamam da imprevisibilidade. “Adicionalmente, consumidores também ficam mais cautelosos e reduzem as compras em ambientes de elevada incerteza, impactando no faturamento das empresas. Cria-se um ciclo que leva a baixo crescimento e recuperação tímida do emprego”, completa.
Alguns índices recentemente divulgados, como o Indicador de Confiança do Micro e Pequeno Empresário, aferido pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), demonstram uma leve melhora na percepção de empresários com a economia e seus próprios negócios.
Em maio, foi registrado 54,1 pontos – um aumento de 4,3 pontos na comparação com o mesmo período do ano passado (49,8 pontos). Também houve aumento em comparação com Abril de 2018, quando o indicador estava em 52,7 pontos. O estudo apurou, ainda, que em 12 meses caiu de 61% para 46% o percentual de micro e pequenas empresas que preveem piora na economia.
Segundo o estudo, o resultado acima de 50 pontos demonstra o predomínio de uma visão moderadamente otimista.
O mesmo otimismo não é percebido no resultado do ICEI (Índice de Confiança do Empresário Industrial) da Confederação Nacional da Indústria. O de maio ficou em 55,5 pontos, o que representa um recuo de 1,3 ponto em relação ao mês anterior, quando o índice já havia caído 2,4 pontos. Pior: as duas quedas consecutivas interromperam uma sequência de oito meses de crescimento da percepção observada no índice.
Segundo o economista Gabriel Couto, uma impressão de melhora sutil tem sido compartilhada entre empresários, quando a comparação é feita com referências anteriores.
“A percepção geral é de que o pior momento da crise já passou, mas isto não significa que o momento atual é de otimismo ou de desempenho econômico satisfatório. Há dois anos a economia ainda se retraía, a inflação era muito mais alta, e as incertezas eram ainda maiores. Entretanto, ainda estamos longe de recuperar tudo o que foi perdido ao longo da crise”, afirma. Outro ponto observado, é que a retomada é desigual entre setores. Existem segmentos que ainda não veem melhoras, enquanto outros já se encontram em estado mais avançado da retomada.
O excesso de obrigações tributárias e criação de novas regras no país, que atingem principalmente as regiões Sul e Sudeste, também prejudicam as empresas na hora de fazer o planejamento e a tomada mais assertiva de decisões.
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), a cada dia útil são publicadas, em média, cerca de 46 novas regras tributárias no Brasil.
“A elevada e complexa carga tributária prejudica a produtividade do brasileiro, que precisa dedicar muitas horas de trabalho com questões burocráticas. Em um momento de alto desemprego, a recuperação poderia ser mais rápida se o sistema fosse mais simples e não ocorressem tantas mudanças”, considera.
Por Mariana Bruno para o Portal Contábeis