O Banco PanAmericano, além de inflar os balanços financeiros, também "maquiava" a avaliação de risco dos clientes pelo menos desde 2006, segundo depoimento à Polícia Federal de Adalberto Saviolli, ex-diretor de crédito da instituição financeira.
O objetivo era tornar a clientela, aos olhos do Banco Central, com perfil melhor de pagamento, reduzindo assim as despesas com o recolhimento de dinheiro para cobrir eventuais calotes.
Os bancos são obrigados a fazer uma avaliação de risco de cada emprestador, de acordo com histórico de calote, atrasos nos pagamento, renda etc. Os ratings vão de A (melhor pagador possível) a H (inadimplente). De acordo com essa classificação, o banco separa recursos (mais para os piores pagadores e menos para os melhores) para cobrir eventuais calotes.
No depoimento, Saviolli afirma que a "maquiagem" da classificação dos clientes já acontecia quando ele assumiu o cargo, em 2006. Disse que ocorria tanto no banco quanto na empresa de cartão.
Quando ficou sabendo do problema, Saviolli comunicou o caso aos administradores, informando que teria de aumentar esse recolhimento para calote (provisões).
No entanto, a correção não foi autorizada por seus superiores porque iria piorar o resultado financeiro do banco. À época, Saviolli recebeu a ordem de melhorar o sistema de cobrança, trazendo mais pagamentos atrasados e melhorando o perfil de risco dos clientes. A tarefa teria sido cumprida e, mais tarde, foi possível corrigir parte da avaliação de risco dos clientes.
Cartões
O PanAmericano transferiu parte da carteira de clientes do banco para a empresa de cartões do grupo, área com menor risco de a "maquiagem" dos clientes ser pega.
No depoimento, Saviolli disse não ter sido o responsável por essa transferência. A Folha apurou que só Wilson de Aro, ex-diretor financeiro, e Rafael Palladino, ex-presidente do banco, tinham autoridade para fazer isso.
Segundo o advogado Adriano Salles Vanni, Saviolli não sabia do esquema de fraudes envolvendo carteiras de crédito montado no PanAmericano. À PF Saviolli relatou que era responsável só pelo cálculo da avaliação de risco dos clientes e pela concessão de crédito.
O ex-diretor do PanAmericano disse que foi comunicado, em setembro de 2010, pelos administradores do banco que o Banco Central tinha descoberto o rombo contábil. Em novembro, época do socorro, ele e toda a diretoria foram demitidos.
Desde que o caso estourou, no fim de 2010, Saviolli teria se prontificado a colaborar, mas só foi ouvido anteontem. "Enviamos várias petições para que ele fosse ouvido, mas o depoimento só ocorreu no final", afirma Vanni.
Mesmo disposto a colaborar, Saviolli saiu da PF indiciado por crime contra o sistema financeiro. "Ele se sente injustiçado", diz Vanni.
Banco precisa elevar capital em R$ 1 bilhão
O PanAmericano precisa de R$ 1 bilhão para seguir fazendo empréstimos.
Para isso, os sócios Caixa Econômica Federal, BTG Pactual e os minoritários terão de injetar dinheiro. O "Painel" da Folha revelou que a parte da Caixa é de R$ 340 milhões.
O banco está com índice de Basileia, que mede relação entre capital próprio e crédito, em 12,44 (o mínimo é 11). Procurado, o banco disse desconhecer o caso.
Toni Sciarretta
Julio Wiziack
Flávio Ferreira
Fonte: Folha de S.Paulo