No mercado de trabalho, a pandemia quebrou uma das grandes barreiras de contratação: a distância física entre empresa e colaborar. Com a necessidade do trabalho remoto ou híbrido, as empresas se reinventaram e perceberam que é possível sim manter funcionários trabalhando nas mais diversas partes do mundo.
Uma pesquisa realizada pela Ticket mostrou que o trabalhador brasileiro já sonha com essa realidade: 28% dos entrevistados pretendem mudar de cidade caso migrem para um sistema de home office. E, de acordo com dados da Salesforce, 52% dos profissionais mudariam de emprego para trabalhar remotamente.
Uma outra pesquisa, essa realizada pela Workana, plataforma de trabalho freelancer, 16% dos gestores disseram estar prontos para contratar talentos de outras cidades e até mesmo de outros países.
Desde março do ano passado o número de vagas que oferecem a possibilidade de trabalhar de forma totalmente remota subiu 215%, de acordo com o site de empregos Indeed. O levantamento mostra um novo comportamento do mercado: as empresas estão mais abertas para o home office e os funcionários estão interessados.
Então, para conseguir uma vaga para trabalhar em qualquer lugar, especialistas entrevistados pela Exame orientam para adaptar o currículo e garantir que você possui algumas habilidades essenciais para a modalidade.
Mudança de mentalidade
“Experiência é experiência, trabalhar no escritório ou remoto não é tão diferente. A mudança é na cabeça, da empresa e do funcionário. Entender que o ambiente muda, mas o trabalho é o mesmo, deixa a adaptação mais fácil”, comenta Daniel Schwebel, diretor da Workana no Brasil.
Assim, é importante que a pessoa procure por uma empresa com essa mentalidade, e que também entenda que todos os aspectos do trabalho serão iguais. E isso será importante de demonstrar aos recrutadores. O executivo acredita que vale sinalizar no currículo que você está aberto para oportunidades de trabalho remoto.
Mais línguas, mais oportunidades?
“O domínio de pelo menos dois idiomas, incluindo o inglês, é indiscutível. As reuniões em grupos de diferentes países tornaram-se rotineiras. Antigamente, buscávamos emprego no bairro onde morávamos. Agora o mundo ficou verdadeiramente sem fronteiras. Ampliar a bagagem cultural é fundamental para justamente saber se relacionar profissionalmente com pessoas imersas em outros costumes”, fala Leonardo Freitas, presidente da HAYMAN-WOODWARD.
Isis Borge, diretora do Talenses Group, comenta que, em 10 anos atuando como headhunter, pode contar nos dedos casos de transferências internacionais em que o candidato não dominava o idioma do país ou pelo menos o inglês.
“Alguns países são mais flexíveis que outros, a Alemanha por exemplo aceita contratar profissionais que não falem alemão, mas que sejam fluentes em inglês. E as empresas pagam aulas intensivas de alemão para esse profissional. Já a França é mais fechada e costuma aceitar com mais facilidade apenas profissionais que dominem o francês”, fala ela.
Para brasileiros que só falem português, a diretora acredita que as chances são maiores para vagas em Portugal ou em países africanos como Angola e Moçambique.
Hora de traduzir o CV
Uma versão do currículo? Esqueça. O CEO da HAYMAN-WOODWARD avisa que ter um currículo em outros idiomas é indispensável.
“Ao buscar vagas internacionais, o candidato deve ter em mente que o currículo em diferentes idiomas é imprescindível para que o recrutador e a empresa possam saber de forma precisa quais são as habilidades e qualidades de cada candidato. A adaptabilidade e pluralidade no desempenho das funções são relevantes numa contratação de sucesso”, comenta ele.
A presença online também será valiosa, o que torna o Linkedin uma das ferramentas da carreira mais digital. Assim, os profissionais que quiserem se destacar em vagas internacionais podem fazer uma versão em inglês do perfil dessa rede.
Aprenda com os freelancers
Você pode nunca ter imaginado a vida de freelancer como uma opção na sua carreira, mas esses profissionais podem te ensinar muito sobre o futuro do trabalho, em especial sobre o trabalho de qualquer lugar.
“Ter experiência como freelancer virou vantagem competitiva. É apenas uma questão de aprendizado, claro, mas esse profissional está alguns passos à frente. Essa pessoa sabe se adaptar e entende melhor o formato remoto ou híbrido de serviço”, comenta o diretor da Workana.
Esses profissionais também se destacam por sua organização e planejamento, o que é muito necessário no home office e se torna essencial para trabalhar com outros países, até pela diferença de fuso horário.
Então: já fez algum “job”? Não esconda do currículo para vagas remotas.
Cargos temporários
Uma alternativa no mercado de trabalho hoje é buscar por vagas temporárias e indicar no currículo que está aberto para posições desse tipo. É o que defende Fernando Pedro, Diretor Geral da Assigna, empresa do Talenses Group especializada em Staff Loan.
“O que pode ser feito é customizar o currículo para o tipo de projeto que se está pleiteando. Por exemplo um projeto de reconciliação fiscal, citar nas passagens onde o profissional teve essa experiência. Tente ser objetivo na quantidade de informações pessoais, o consultor de Recursos Humanos tem pouco tempo para avaliar o seu currículo, então, é importante que o consultor de RH tenha facilidade na avaliação do seu currículo”, explica ele.
Plano de carreira internacional
Como para qualquer movimentação de carreira, é preciso ter um plano. Para o diretor geral da Assigna, é importante estabelecer seus objetivos profissionais e os passos que precisa tomar para tentar uma vaga no exterior.
“Elaborar uma lista vai ajudar você a entender o que você está buscando em um trabalho no exterior”, explica ele.
O especialista recomenda fazer uma boa pesquisa sobre benefícios e salários e quais são os requisitos das vagas no país desejado.