No dia 12 de julho, o euro alcançou a paridade com o dólar pela primeira vez desde o início da circulação da moeda comum europeia, no ano de 2002.
A notícia foi celebrada pelos turistas do momento ou por quem planeja uma viagem à Europa. Mas, não deveria ser um momento de celebração
A queda do valor da moeda comum europeia está relacionada a um emaranhado de sinais pessimistas que indicam adversidades para a economia global e em especial para a brasileira.
Isso significa que há um forte indício de que o mundo deve enfrentar um processo praticamente inevitável de desaceleração econômica e um dólar mais valorizado.
Ou seja, será mais difícil para todos ganharem dinheiro e, consequentemente, acumular dívidas para viajar.
Para piorar, a situação ainda pode resultar em inflação maior aqui, no Brasil, o que obriga os juros locais a serem mantidos nas alturas.
Em março, os Estados Unidos elevaram sua taxa para conter a inflação, o que atraiu oportunidade de recursos para o país e levou a uma desvalorização acumulada de 10% do euro frente ao dólar no ano.
O índice DXY, que mede a moeda americana em relação a divisas fortes, acumula alta de 15% em 2022.
Com o euro e o iene japonês enfraquecidos ante o dólar, espera-se que seja bastante difícil a tarefa de qualquer outra moeda rivalizar com a principal do mundo em um momento em que investidores buscam ativos seguros para enfrentar as instabilidades globais.
Na última quinta-feira (21), o Banco Central Europeu, em um movimento que não se via há mais de uma década, elevou os juros em 0,5 ponto percentual, para contrabalançar a escalada dos índices americanos e conter a alta dos preços que avança pelo continente.
Quadro alarmante
A situação é ainda mais preocupante nos países emergentes, como o Brasil.
O Instituto Nacional de Finanças calcula em 40 bilhões de dólares a fuga de capital estrangeiro desses mercados nos últimos quatro meses.
Além disso, no caso brasileiro as incerteza políticas e as fragilidades fiscais do governo aumentam o risco, fator a mais para a desvalorização do real.
A moeda brasileira chegou a ganhar força frente ao dólar no primeiro trimestre do ano com o aumento do preço das commodities, decorrente da guerra na Ucrânia, mas o efeito foi revertido com os temores de uma recessão global. Os riscos com isso são diversos.
Na última terça-feira (19), a Petrobras anunciou uma redução no preço de venda da gasolina nas refinarias, justificada pela estabilização da cotação internacional do petróleo.
A notícia foi comemorada pelo governo de Jair Bolsonaro, uma vez que a medida, associada ao pacote de corte de impostos aprovado no Congresso, deve ajudar o país a ter deflação nos próximos meses. Porém, com o dólar pressionando, o alívio pode ser passageiro.
“Mesmo com a queda o preço segue alto no mercado nacional por causa do efeito do dólar”, explica o economista Mario Rubens de Mello Neto, da Fundação Getúlio Vargas, lembrando que os preços da Petrobras são ancorados na moeda americana.
Além de tudo, o dólar alto afeta produtos importados e outros que seguem a cotação internacional, como parte dos alimentos.
Muitos economistas defendem que não existe fator mais relevante para as altas de preços no Brasil que um dólar forte.
Neste contexto, o euro barato não é uma boa notícia. Nem mesmo para os brasileiros em férias.
Com informações da Veja Economia