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Oferta de consignado a aposentados gera assédio, “chuva” de ligações e cria oportunidade de golpes

A incessante oferta de consignados “já aprovados” para os aposentados tem gerado problemas para a categoria, que é assediada por bancos e abre portas para golpes.

11/10/2022 14:30

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Oferta de consignado a aposentados causa assédio e espaço para fraudes

Oferta de consignado a aposentados gera assédio, “chuva” de ligações e cria oportunidade de golpes PEXELS

As instituições financeiras não têm dado trégua aos aposentados com suas ofertas de crédito consignado “já aprovado”, o que continua incomodando a categoria com as ligações repetidas, abrindo espaço para ações fraudulentas, dificultando a distinção de quais ofertas são reais ou o que é golpe.

Apesar de medidas adotadas pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para coibir os contatos, muitas vezes feitos por golpistas, há casos de pessoas que recebem diariamente mais de 30 ligações e mensagens.

A grande incógnita, que virou caso de polícia, é como as instituições e os criminosos conseguem os dados dos aposentados e pensionistas, incluindo o valor do benefício e o porcentual que pode ser comprometido com o empréstimo. 

A Febraban informa que desde janeiro de 2020 está em vigor a Autorregulação do Consignado, iniciativa criada em parceria com a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) voltada à transparência, ao combate ao assédio comercial e à qualificação de correspondentes bancários (empresas autorizadas pelo Banco Central a prestarem serviços para instituições financeiras).

As 32 instituições financeiras que participam da autorregulação assumem o compromisso de adotar as melhores práticas de proteção de dados pessoais dos clientes e do combate a fraudes. Segundo a Febraban, elas representam quase a totalidade do volume da carteira de crédito consignado no País.

Autorregulação em prática

Desde o início da adoção dessas regras até julho deste ano, 977 empresas receberam punições por irregularidades na oferta do consignado, 440 correspondentes bancários foram advertidos, 497 tiveram suas atividades suspensas temporariamente e outras 40 em definitivo.

Segundo a entidade, as multas por conduta omissiva variam de R$ 45 mil a R$ 1 milhão, e os valores são destinados a projetos de educação financeira. 

“Nós condenamos qualquer tentativa de fraude ou irregularidade na oferta e contratação do consignado”, afirma o presidente da Febraban, Isaac Sidney.

Em nota, o INSS informa que, desde a publicação de uma instrução normativa em 2019, o benefício da aposentadoria é bloqueado para realização de operações de crédito consignado até que haja autorização do titular ou representante legal. A norma, contudo, tem sido burlada.

Caso de polícia

Denúncias sobre a existência de listas com nome, CPF, endereço, telefone, número e valor do benefício são enviadas à Coordenação de Combate a Fraudes do INSS e à Polícia Federal. 

“Por se tratar de suposto vazamento de dados, deve ser realizada uma investigação policial”, diz o Instituto.

Questionado sobre eventuais avanços nessas investigações, o órgão afirma que “as ações da Força-Tarefa Previdenciária e Trabalhista são sigilosas, justamente para garantir que obtenham sucesso”. Ressalta também que o INSS não compartilha nem autoriza o compartilhamento de informações de segurados e beneficiários para fins ilícitos.

Na semana passada, o INSS publicou portaria instituindo o Conselho de Avaliação do Atendimento Bancário, como mais uma ação e instrumento para aprimorar e garantir a qualidade do serviço prestado tanto pelo INSS como pelos bancos às pessoas que usam os serviços ou recebem benefícios do instituto.

Em outubro de 2021, o INSS também fez um termo com os bancos para que passassem a realizar controle mais rigoroso em relação à oferta de empréstimos consignados. Um exemplo é não permitir a oferta de créditos por telefone para quem está cadastrado no “Não perturbe”, sob risco de punições por infração às regras de conduta do setor financeiro. Os empréstimos agora precisam ser feitos com validação biométrica.

A Febraban orienta os consumidores a fazerem denúncias nos canais internos dos bancos citados pelas pessoas que fazem as ofertas, nos Procons ou no site consumidor.gov.br. O BC cita os canais do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) e sua Ouvidoria. 

É possível, ainda, registrar reclamações contra uma instituição financeira no BC Reclamação pelo site bcb.gov.br.

A situação está sendo acompanhada pelas autoridades e, na última quinta-feira (6), a Polícia do Rio conseguiu prender uma quadrilha de golpe do empréstimo consignado, que mirava aposentados.

Bloqueios sem efeito

O Procon-SP informa que, neste ano, até setembro, recebeu 4.602 reclamações envolvendo empréstimos consignados, muitas delas por cobrança de serviços não contratados. O órgão de defesa do consumidor não tem um recorte sobre quantas envolvem o assédio das instituições.

Em 2019 inteiro foram registradas 2.505 queixas, no ano seguinte, 6.502 e, em 2021, somou 8.355. Neste ano, setembro foi o mês com maior número de reclamações: 787, segundo dados do Procon-SP.

Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) na situação

O advogado da área de relacionamentos do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Lucas Marcon, avalia como “gravíssimo” e “abusivo” o excesso de ligações em um mesmo dia, em horários inapropriados e a dificuldade para identificar a origem das chamadas.

Marcon lembra que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) proíbe a divulgação de dados sem o consentimento do consumidor. “Contudo, a aplicação da lei por vezes não ocorre de maneira ideal.” 

O maior exemplo, diz, é quando idosos recebem ligações de financeiras de consignado mesmo antes de saberem se conseguiram a aposentadoria, o que traz fortes indícios de vazamentos de dados.

Como se proteger de golpes com crédito consignado

1. Não clique em links enviados por e-mails ou WhatsApp de remetentes que você não reconhece;

2. Nunca informe seus dados pessoais e bancários quando solicitados em ligações ou mensagens de remetentes desconhecidos;

3. Se for contratar algum crédito, procure sempre os canais oficiais das instituições com as quais você se relaciona;

4. Denuncie o assédio nos canais internos dos bancos citados pelas pessoas que fazem as ofertas, nos Procons ou no site consumidor.gov.br;

5. Também é possível fazer denúncias diretamente no Banco Central, nos canais do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) e na Ouvidoria da instituição. É possível, ainda, registrar reclamações contra uma instituição financeira no BC Reclamação pelo site bcb.gov.br.

Fonte: Estadão

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