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Jornadas de trabalho ‘não lineares’: entenda o conceito, como colocar em prática e a influência na produtividade

Com a pandemia, os horários da jornada de trabalho também foram impactados, e essa alteração pode ter vindo para ficar.

17/10/2022 14:30

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 O que são as jornadas de trabalho “não lineares” e suas vantagens

Jornadas de trabalho ‘não lineares’: entenda o conceito, como colocar em prática e a influência na produtividade Pexels

Entre as muitas coisas que a pandemia de Covid-19 modificou, a forma que a jornada de trabalho é conduzida foi uma delas, revelando como os trabalhadores podem ter vantagens atuando em horários diferentes do estipulado tradicionalmente.

Décadas atrás, o dia de trabalho geralmente significava que os funcionários chegavam ao escritório às 9h, almoçavam ao meio-dia e saíam às 17h ou 18h — e ponto final.

É claro que a pandemia mudou esse cronograma. Os profissionais não só vêm trabalhando remotamente há mais de dois anos, como a forma específica que fazem o trabalho também se alterou.

Essa reorganização também gerou novos padrões de trabalho de todo tipo, incluindo o "dia de trabalho não linear". Nele, os profissionais podem cumprir seu trabalho fora do cronograma rígido tradicional, das 9 às 17h (ou 6h), muitas vezes nos horários que funcionam melhor para eles.

Mesmo trabalhando de forma assíncrona — sem que todos os colegas mantenham os mesmos horários —, os funcionários podem completar tarefas com concentração em blocos flexíveis espalhados ao longo do dia. A ideia é que os funcionários possam estabelecer cronogramas de trabalho em função da sua vida pessoal, e não o contrário.

Popularização do formato

Nas décadas passadas, jornadas de trabalho não lineares não eram comuns. Mas, agora, a adoção em massa dos padrões de trabalho híbrido e remoto, com cronogramas cada vez mais flexíveis, fez com que os dias de trabalho não lineares ficassem mais viáveis para grande parte dos trabalhadores.

Em alguns casos, os profissionais já estão praticando esse sistema até certo ponto sem perceberem, preferindo realizar tarefas que exigem maior concentração tarde da noite ou adiantando projetos de manhã cedo.

É claro que nem todas as empresas concederão esse grau de liberdade aos trabalhadores. Mas, no novo mundo profissional, as jornadas de trabalho não lineares ainda devem assumir um papel mais importante em alguns empregos e setores de atividade.

Especialistas indicam que o trabalho assíncrono traz inúmeros benefícios, desde que certas medidas sejam adotadas.

Controle como você passa o tempo

As jornadas de trabalho não lineares parecem ser o produto mais recente da reorganização do ambiente profissional causada pela pandemia, mas elas não são um conceito novo.

Na verdade, elas são um retorno à forma como as pessoas costumavam trabalhar na era pré-industrial, quando um dia de trabalho típico duraria do amanhecer até o pôr do sol, salpicado de intervalos regulares, refeições e sonecas.

Mas, com a industrialização da sociedade, surgiu a semana de trabalho rígida, de 40 horas em cinco dias, em ambientes industriais, segundo explica o sócio da empresa de consultoria McKinsey & Company, Aaron De Smet, com sede em Nova Jersey, nos Estados Unidos.

Esse modelo de jornada de trabalho de 8h foi transferido para o escritório — e, mesmo com a chegada da tecnologia, a visão convencional e as normas sociais fizeram com que a estrutura fixa de trabalho no escritório das 9h às 17h permanecesse sem alterações.

O sócio afirma que a pandemia rompeu com esse pensamento tradicional, já que os profissionais permaneceram produtivos mesmo fazendo intervalos, passando tempo com a família e trabalhando em horários flexíveis.

As jornadas de trabalho não lineares podem manifestar-se de muitas formas. Um profissional que more com outras pessoas pode preferir dedicar-se às tarefas que exigem concentração antes que os outros acordem, focando em um conjunto de tarefas das 18h às 8h e reduzindo a carga de trabalho na parte da tarde.

Ou talvez um pai ou mãe deixe de trabalhar por duas horas à tarde para pegar seu filho na escola e comer com ele, terminando o período de trabalho depois que a criança for dormir. As variações são infinitas e muito pessoais.

A professora de ciências do comportamento da London School of Economics and Political Science, Laura Giurge, afirma que a crescente popularidade das jornadas de trabalho não lineares surgiu porque os profissionais se acostumaram a rotinas de trabalho flexíveis durante a pandemia.

"O trabalho assíncrono permite que as pessoas economizem o tempo do transporte, cumpram as tarefas administrativas durante as horas de baixa produtividade, tenham mais tempo para praticar exercícios e economizem dinheiro com refeições preparadas em casa", afirma ela.

E maior flexibilidade costuma trazer também maior produtividade. Ao contrário de ficarem logados por 8h a fio em horário fixo, os funcionários podem dividir as jornadas em blocos mais adequados aos ritmos naturais de trabalho.

"Um benefício importante dos dias de trabalho não lineares é ter controle de como você passa o seu tempo, fazendo seu trabalho quando for mais produtivo", afirma Giurge.

As jornadas de trabalho não lineares ajudam a mudar o foco do trabalho, saindo da atividade e concentrando-se nos resultados. "Deixa de ser questão de quando ou onde você trabalha, mas sobre o cumprimento do trabalho. Os gerentes ficam responsáveis por definir os objetivos e a visão para os funcionários, mas não dizem a eles como devem chegar lá", acrescenta ela.

Visão de longo prazo

Mesmo antes da pandemia, muitos funcionários já estavam trabalhando de forma não linear, ao menos em parte — realizando tarefas ou enviando e-mails fora do horário contratado ou do local de trabalho. Mas isso, na verdade, eram horas extras sem pagamento, realizadas devido à demora no transporte e aos cronogramas de trabalho no escritório das 9h às 17h.

A esperança é que, se as empresas puderem introduzir políticas de jornadas de trabalho não lineares de maneira mais formal, isso irá corrigir o equilíbrio entre o trabalho assíncrono e o excesso de trabalho. E De Smet afirma que isso pode ajudar a evitar o burnout.

"Trata-se de encontrar a combinação perfeita no novo mundo profissional, onde as restrições de quando, onde e como fazemos nosso trabalho foram reduzidas — em parte, pela tecnologia e, em parte, pelas novas normas decorrentes da pandemia", afirma ele.

Atualmente, as jornadas de trabalho não lineares são praticadas principalmente na indústria da tecnologia, mas elas podem ficar mais comuns devido à demanda do próprio mercado de trabalho. O fato é que mais profissionais vêm buscando maior flexibilidade e autonomia.

Em uma pesquisa da McKinsey entre 13.382 trabalhadores de várias partes do mundo em julho de 2022, 40% deles afirmaram que a flexibilidade no local de trabalho era um principal motivador para permanecer ou não em uma empresa.

"Os funcionários agora têm práticas e preferências de trabalho diversas", afirma Giurge. "Deixar de reconhecer e apreciar essas diferenças fará com que as empresas percam seus talentos a longo prazo."

Para De Smet, os benefícios das jornadas de trabalho não lineares são recíprocos.

"Para os funcionários, enormes cargas de trabalho não significam mais ficar no escritório até depois das 19 horas e perder o jogo de futebol dos filhos", segundo ele.

"Agora, eles podem ter mais vida pessoal e completar o seu trabalho. E, para as empresas, o trabalho que está sendo feito muitas vezes é criativo, inovador e emocional — mais bem feito, em ambientes otimizados e flexíveis."

No novo mundo profissional, as jornadas de trabalho não lineares podem também se encaixar continuamente nos padrões de trabalho híbrido e remoto.

"Estamos vendo que o mundo do trabalho no futuro é, de alguma forma, cada vez mais não linear", acrescenta De Smet. "Precisamos encontrar novos ritmos que apoiem a produtividade, a eficiência, o bem-estar e a criatividade."

Com informações BBC Worklife e g1

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