Desde a pandemia de coronavírus, um número crescente de brasileiros tem optado por deixar seus empregos, revelando uma mudança significativa no mercado de trabalho do país.
Dados recentes do Ministério do Trabalho e Emprego, analisados pela LCA Consultores, mostram que o fenômeno atingiu um pico histórico em abril do ano passado e continou crescendo em 2024.
Recorde de pedidos de demissão em abril
Em abril, cerca de 734,9 mil brasileiros solicitaram demissão, o maior número registrado desde o início da série histórica em janeiro de 2004.
Comparativamente, em 2019, antes da pandemia, aproximadamente 3,6 milhões de trabalhadores deixaram seus empregos voluntariamente. Em 2023, esse número dobrou para 7,3 milhões, representando uma média de 20 mil demissões por dia. A tendência continua em 2024, com um aumento de 15,6% no número de demissões nos primeiros quatro meses em relação ao mesmo período do ano anterior.
Especialistas apontam diversos fatores que contribuem para essa tendência. Entre eles, destacam-se o fortalecimento da economia, a busca por um equilíbrio melhor entre vida pessoal e profissional no pós-pandemia, mudanças comportamentais entre os profissionais mais jovens e um aumento no desejo de iniciar o próprio negócio.
O crescimento do empreendedorismo
O empreendedorismo tem desempenhado um papel crucial nesse movimento. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o número de novas empresas dobrou na última década, passando de 1,89 milhão em 2014 para 3,87 milhões em 2023. Essa explosão é alimentada pelo crescimento dos microempreendedores individuais (MEIs). De acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o número de MEIs triplicou no mesmo período, saltando de 4,6 milhões para 15,7 milhões, um aumento de 237,8%.
Muitas pessoas que pedem demissão para empreender buscam maior liberdade econômica e flexibilidade de horário, acreditando que poderão alcançar um nível de satisfação que não conseguem como empregados formais.
Considerações e direitos ao pedir demissão
Antes de pedir demissão, é fundamental que o trabalhador considere alguns fatores importantes:
- Impactos financeiros: avaliar a perda de renda até encontrar um novo emprego;
- Motivações: refletir se as razões para a saída são temporárias ou permanentes;
- Planejamento: ter um plano ou uma nova oportunidade em vista.
A legislação trabalhista brasileira prevê direitos específicos para quem pede demissão, incluindo:
- Saldo salarial;
- Décimo terceiro salário proporcional;
- Férias vencidas (se houver) e proporcionais, ambas acrescidas de ⅓.
Existem duas formas de pedir demissão:
- Demissão tradicional: o trabalhador comunica à empresa sobre seu desligamento e concede o aviso prévio de 30 dias. Caso opte por não cumprir o aviso prévio, o empregador pode deduzir o valor correspondente nas verbas rescisórias.
- Demissão por mútuo acordo: o trabalhador recebe saldo salarial, décimo terceiro salário proporcional, férias vencidas (se houver) e proporcionais, acrescidas de 1/3, metade do valor do aviso prévio, multa de 20% sobre os depósitos do FGTS e direito de saque de 80% dos depósitos do FGTS, mas não tem direito ao seguro-desemprego.