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Consumidor não consegue comparar juros entre bancos

Entre cinco instituições de varejo, só a Caixa ofereceu simulação antes da abertura da conta

07/08/2012 09:52

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Consumidor não consegue comparar juros entre bancos

SÃO PAULO - "Baixamos os juros. Venha ser nosso cliente". Os bancos anunciam crédito mais barato. Mas, na prática, o consumidor não tem facilidade para comparar as taxas e encontrar o menor juro. A reportagem visitou agências dos cinco maiores bancos de varejo (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander). Em todas elas, o objetivo era conseguir um empréstimo de R$ 5 mil no crédito pessoal, para um cliente com renda de R$ 2,5 mil. Contudo, o que se viu é que somente correntistas conseguem simulações concretas de juros.

No banco Santander, o balde de água fria veio já no pré-atendimento. A atendente perguntou se o repórter era correntista. Diante da negativa, disse: "Então não tem como fazer a simulação." Só correntistas com mais de três meses de relacionamento e movimentação na conta conseguiriam um empréstimo, segundo a funcionária. E, mesmo sem fazer uma simulação, a atendente informou que a taxa variaria entre 8% e 9% ao mês.

Já no Banco do Brasil, a funcionária calculou um juro de 4,99% ao mês para um perfil de conta poupança criada há oito anos. Contudo, fez uma recomendação curiosa ao ver um cartão da concorrência na carteira do repórter: "Já tentou no Santander? Às vezes eles conseguem taxas melhores."

'COMPRA CASADA'

As perspectivas no BB não melhoraram em outra visita. Desta vez, foi apresentado perfil diferente: um cliente que possui conta corrente há cinco anos. A alegação de que o cadastro estava desatualizado impediu uma simulação de empréstimo de bate-pronto.

Mesmo assim, a reportagem insistiu para saber quais as taxas do crédito pessoal. A atendente do BB informou que as menores taxas, entre 3,90% e 4,89% ao mês, poderiam ser acessadas desde que o cliente aderisse ao pacote de serviços Bom Pra Todos, cuja tarifa varia entre R$ 30 e R$ 54. Pela faixa salarial, o repórter pagaria entre R$ 30 e R$ 38 pelo pacote. Caso não aderisse, a taxa seria maior: em torno de 5,89% ao mês.

O que foi vivenciado pela reportagem na agência do Banco do Brasil é contrário ao posicionamento do banco. "A taxa de juros nunca está relacionada com a aquisição de serviços. E sim com a relação que o cliente tem com o banco. Um cliente que se comprometa a concentrar suas movimentações financeiras com o banco terá um juro menor", afirma o diretor de clientes pessoa física do Banco do Brasil, Hideraldo Dwight Leitão.

RISCO 

Sem conta no Itaú, a reportagem foi a uma agência solicitar o empréstimo de R$ 5 mil. O atendente consultou o CPF e viu que o nome do repórter estava limpo. Depois, informou que o crédito só seria liberado em caso de abertura de conta corrente e movimentação por três meses. As taxas para crédito pessoal variariam entre 4,95% e 6,7% ao mês. O funcionário disse que com o comprovante de renda a conta poderia ser aberta, mas a liberação do crédito dependeria do nível de movimentação. Além disso, os juros seriam menores com adesão ao pacote de serviços mais caro.

Em outra visita ao Itaú a informação foi um pouco diferente. Sem detalhar taxas, o funcionário disse que a avaliação de crédito depende de quanto é depositado na conta e não da comprovação de renda. Dessa maneira, o banco entende que o salário do correntista é de R$ 500 se ele depositar esse valor em conta.

A Caixa Econômica Federal foi a instituição que chegou mais perto de oferecer uma pesquisa rápida ao consumidor. A atendente do banco informou que não era necessário abrir uma conta corrente para fazer uma avaliação de crédito, desde que comprovantes de renda, endereço e identidade fossem entregues para análise. Mas pecou ao fornecer duas informações erradas: primeiro, disse que a taxa do crédito pessoal varia entre 2,5% e 6,5% ao mês, enquanto o banco anuncia valores entre 1,80% a 3,88% ao mês. Depois, disse que transferir o recebimento de salário para a instituição não alteraria a taxa de juros.

A reportagem também foi ao Bradesco, em que não tem conta corrente, solicitar o empréstimo. O CPF foi conferido e o nome não está sujo na praça. O Bradesco ofereceu crédito pessoal a uma taxa de juros de 6,23% no caso de abertura de conta - a taxa máxima anunciada pela instituição. Ao conferir a renda mensal do repórter, o funcionário disse que poderia tentar conseguir uma taxa de 4%, mas sem garantia.

CONCORRÊNCIA

A comparação entre taxas faz toda a diferença para quem precisa de crédito. A diferença entre pagar a taxa mínima ou a máxima anunciada pode ser significativa. Um exemplo: o consumidor paga R$ 6344,53 ao final de um empréstimo de R$ 5 mil parcelado em 24 vezes a uma taxa de 2%. Já com uma taxa de 6%, o valor pago sobe para R$ 9561,48.

"A justificativa de que é preciso abrir conta para avaliar crédito é balela", afirma Lucimara Makhoul, professora de gestão de crédito na Faap. Ela lembra que os bancos conseguem saber, apenas com o número de CPF, todo o histórico do cliente num passado de cinco anos e, assim, concluir se ele é ou não um bom pagador.

Pior do que a falta de condições para comparar taxas é a prática de venda casada. "O Código de Defesa do Consumidor condena a aquisição de um produto para ter o benefício de outro. A adesão a um pacote para ter acesso a uma taxa mais baixa é de fato venda casada", afirma a advogada e coordenadora institucional da Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), Maria Inês Dolci. Inclusive, em alguns casos, a adesão ao pacote não compensa o juro mais baixo. Segundo a Proteste, os novos pacotes de serviços do BB chegam a ser 52% mais caros que os anteriores.

De acordo com Maria Inês, existe pouca informação e os juros baixos são para poucos. "O que é anunciado não é encontrado na prática". O Brasil tinha 192 bancos de varejo em 2000 (entre bancos múltiplos, comerciais e caixa econômica). Em 2011, a concorrência diminuiu para 160 instituições, segundo o Banco Central.

BANCOS

Segundo o Itaú, a avaliação de risco é feita em condições responsáveis para concessão de crédito. O Bradesco diz que as taxas variam conforme o relacionamento. Já o Santander afirmou que tomou providências para evitar o ocorrido. A Caixa lamentou as informações incorretas e reforçou que conta-salário ajuda a baixar o juro. Já o BB disse que não adota prática ilegal de "venda casada" e que o juro máximo do crédito pessoal é de 3,84% ao mês.

Fonte: Estadão.com

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