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Balanços refletem economia morna

A temporada de balanços do terceiro trimestre vem mostrando que, apesar de alguns setores ainda sofrerem com a queda no preço de seus produtos e a baixa demanda pelos bens, a economia brasileira começa a respirar.

13/11/2012 10:44

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Balanços refletem economia morna

A temporada de balanços do terceiro trimestre vem mostrando que, apesar de alguns setores ainda sofrerem com a queda no preço de seus produtos e a baixa demanda pelos bens, a economia brasileira começa a respirar e dá sinais de que a recuperação pode vir no ano que vem. Mesmo assim, analistas de mercado continuam preocupados com o ritmo de crescimento, que vem decepcionando, e creem em mais espaço para cortes de custos.

O Valor compilou dados das demonstrações financeiras de 113 companhias de capital aberto que apresentaram os números até hoje. Pelas informações, a receita líquida é a maior desde o fim de 2010, mas os custos também avançaram para o maior patamar e comprometeram a rentabilidade.

Nos três meses encerrados em setembro deste ano, excluindo as gigantes Petrobras e Vale, o faturamento das empresas foi de R$ 151,53 bilhões, o que representa um avanço de 12,3% em bases anuais e de 5,2% frente ao segundo trimestre. Já o custo de produtos vendidos subiu 13,2% e 4,7%, respectivamente, para R$ 108,39 bilhões. O lucro líquido teve expansão de 42,4% anualmente, mas de 77,5% de trimestre para trimestre, chegando em R$ 11,48 bilhões.

O que explica esse forte crescimento frente ao período entre abril e junho foi a fraca base de comparação. O mercado está chamando o segundo trimestre de "fundo do poço". Os balanços foram afetados por uma junção de câmbio desfavorável, procura menor pelos produtos brasileiros no exterior e fraca produtividade da indústria.

Os executivos ? cujo otimismo, é bom lembrar, é quase um dever de ofício ? vêm sinalizando uma melhora daqui para frente.

"O pior já passou, e nossa perspectiva para o ano que vem é positiva", comentou Luiz Fernando Martinez, diretor comercial da siderúrgica CSN, em teleconferência sobre os resultados do período.

"Vamos começar a sentir a tendência de melhora nos nossos resultados", avaliou Sergio Leite, vice-presidente comercial da siderúrgica Usiminas.

Há, porém, uma ressalva sazonal. "Precisamos levar em conta que, historicamente, o terceiro e o quarto trimestres são mais fortes", ressalta Hamilton Alves, analista do BB Investimentos.

E mesmo que tenha havido uma expansão além das especificidades do trimestre, ela ficou abaixo do esperado. "Os incentivos do governo começam a mostrar efeito e ainda há muito para vir. Em geral, os números mostraram melhora, mas frente ao que esperávamos, não foi tão bom", explica William Alves, da XP Investimentos.

Também é preciso ressaltar as alterações do governo federal na regulação do setor elétrico. Com a Medida Provisória 579, as tarifas de venda de energia a serem praticadas pela geradoras e distribuidoras terá de ser menor e, além disso, devem haver baixas contábeis de ativos, o que aponta para uma linha final do balanço significativamente menor nesse setor a partir de 2013.

Indústria a passos curtos
Entre os setores que decepcionaram, estão alguns importantes para a economia, como siderurgia e papel e celulose. Por isso, enquanto o consumo continuou registrando expansão no período ? a última pesquisa mensal do comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de agosto, mostrava uma alta de 1,1% no trimestre no volume de vendas e de 1,6% na receita nominal ?, a produção industrial novamente ficou para trás.

A pesquisa industrial mensal do IBGE apontou uma queda de 2,8% na produção da indústria entre julho e setembro. Enquanto o lucro líquido da fabricante de rodas e ferramentas para ferrovia Iochpe-Maxion recuou 68,5% em um ano, a petroquímica Braskem continuou divulgando um prejuízo, com linha final do balanço abaixo das expectativas. As corretoras, em geral, criticaram também os números dos fabricantes de aço, mas não algumas partilham a expectativa dos executivos de que tempos melhores virão.

"Se você olha [os dados dos balanços], vê uma evolução no mercado doméstico", diz Alves, do BB. "Os estrangeiros começam a apostar em um bom crescimento para o ano que vem."

Outros especialistas estão um pouco mais preocupados. Milena Zaniboni, analista da agência de classificação de risco Standard & Poor?s, não vê um aumento tão forte da capacidade produtiva. "A recuperação está sendo e vai continuar a ser lenta", diz a especialista em crédito.

Alves, da XP, também não está tão confiante. "Eu não sei até que ponto podemos melhorar frente a esse terceiro trimestre. Não acho que vamos ter muito crescimento para frente e não vejo muitos motivos para mudar minha opinião", acrescenta.

Os elementos que podem continuar segurando a economia e os números das empresas são o menor crescimento chinês e um aquecimento fraco da atividade nos Estados Unidos.

Custos menores
As incertezas já estavam fazendo com que as empresas tentassem reduzir seus custos, o que se demonstrou entre julho e setembro com a queda na relação entre os desembolsos e a receita líquida.

O custo (sem considerar Petrobras e Vale) levou 71,9% da receita de venda no segundo trimestre. No terceiro, houve uma pequena redução para 71,5%. A eficiência das companhias, medida pela relação entre receita de vendas e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) subiu de 18,2% para 19,7% no período.

Apesar dos esforços, os analistas creem que há mais a ser feito. "As companhias viram um novo cenário e estão enxugando os custos, mas acho que ainda há espaço para cortar mais", comenta Alves, da XP.

Entre os grupos que se empenharam em melhorar essa linha do balanço, mas ainda preocupam, aparecem o frigorífico Marfrig, as produtoras de papel e celulose Suzano e Fibria e a mineradora Vale. "Assim que o máximo possível for reduzido, tudo que vier pela frente é lucro, então vamos ver um bom crescimento das margens", calcula o analista do BB.

Na Petrobras, porém, os custos continuam em alta. A estatal compra combustíveis do exterior ? onde os preços estão em patamares mais altos ? e revende no Brasil, sem repasse imediato, o que causa uma distorção no balanço da empresa. No terceiro trimestre, os custos subiram 28%, alcançando R$ 55,7 bilhões ? para se ter uma ideia do gigantismo da estatal, isso representa um terço do faturamento das 113 empresas da amostra. A receita não subiu na mesma proporção, o que reduziu em 7 pontos percentuais a chamada margem bruta ? o que sobra da receita depois de descontados os custos ?, para 25%. A administração culpou principalmente os gastos com gasolina e diesel no exterior.

 

Dívida de curto prazo não preocupa analistas

O terceiro trimestre continuou sendo de aumento na dívida líquida das empresas de capital aberto no Brasil, mesmo em um cenário de contenção de investimentos por causa das incertezas na economia. No entanto, a maioria dos setores não preocupa os analistas, já que a capacidade de cobrir o endividamento de curto prazo continua forte e o câmbio não deve atormentar quem tem obrigações em dólar.

Os dados compilados pelo Valor Data com 113 empresas que já apresentaram seus balanços até hoje indicam que o endividamento excluindo o caixa disponível chegou a R$ 338,12 bilhões durante o período de julho a setembro deste ano. Nos mesmos três meses de 2011, esse patamar era de R$ 244,66 bilhões, o que significa um crescimento de 38,2%. Frente ao segundo trimestre, o volume ficou praticamente estável, porém.

Entretanto, a estratégia das empresas continua sendo de garantir o curto prazo. "Se você olhar para a liquidez imediata das empresas,, ela continua boa. O nível de refinanciamento está muito bem administrado", comenta Ricardo Carvalho, diretor sênior de avaliação de empresas brasileiras da agência de classificação de risco Fitch.

Segurando caixa
A retenção de dinheiro gerado nas operações é um dos objetivos dessas companhias com mais problemas. A Vale, por exemplo, que sofre com a queda dos preços do minério de ferro, decidiu não pagar dividendos extraordinários a seus acionistas pela primeira vez em dez anos.

Além disso, a mineradora têm focado cada vez mais em seu negócio principal ? a extração do minério de ferro ?, com a alocação de capital mais forte no projeto de Serra Sul, que vai garantir um produto de maior qualidade e menor custo de produção. "É bastante provável que 2012 represente o pico [dos investimentos", disse a maior vendedora de minério no mundo na época de divulgação do balanço.

Carvalho ainda ressalta que o aumento da dívida não é generalizado. Ele está concentrado em algumas empresas, como as maiores, Petrobras e Vale, além da OGX, de Eike Batista, da operadora de cartões Cielo e da produtora de papel e celulose Klabin. "São companhias em processo de investimento e que estão, em grande parte, elevando a dívida com a taxa de juros", explica o diretor da Fitch.

Das 113 empresas, 87 informaram o dispêndio de capital anualizado, que dá uma visão sobre os investimentos dos grupos. Eles são os maiores desde o fim de 2010, ficando até setembro em R$ 174,1 bilhões ? frente ao mesmo período de 2011, a alta é de 17,5%. No entanto, quando colocado ante o segundo trimestre, o avanço é de 4,8%, também demonstrando a retenção de gastos das companhias.

Outro problema é que os custos e as despesas continuaram reduzindo os ganhos das empresas. Por conta disso, índices de alavancagem, como o que relaciona dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), começaram a aumentar, sinalizando uma possível quebra de contratos de papéis da dívida. A proporção foi a 1,59 vez no terceiro trimestre, contra 0,98 vez um ano antes.

Recentemente, algumas empresas tiveram que renegociar os termos de suas obrigações. Chamados de "covenants", os acordos são feitos quando há emissão de dívida e envolvem índices que medem a alavancagem e a capacidade das companhias de cobrirem os títulos. O frigorífico Minerva, a construtora Rossi e a siderúrgica Usiminas são exemplos de grupos que precisaram mudar os contratos.

Mas a piora operacional e o incremento da dívida não foram os suficientes para as agências de rating promoverem um rebaixamento geral das notas de crédito. Milena Zaniboni, analista da Standard & Poor?s, ressalta que a retenção de caixa, seja diminuindo proventos ou segurando investimentos, tem sido muito positiva no país. "Se não achássemos que haverá recuperação, estaríamos cortando os ratings", diz.

Papel e celulose ainda preocupa
Apesar de nenhum setor surpreender em estouro de covenants, depois de os frigoríficos e as construtoras terem conseguido renegociar os termos, empresas de papel e celulose devem continuar com um cenário negativo no ano que vem.

Suzano e Fibria devem continuar amargando baixos preços de papel e celulose e menores ganhos. Já expectativa em torno da Klabin é melhor. Ela fez um aumento de capital em fevereiro e se beneficia com a alta do consumo, já que fabrica o papelão que é utilizado para embalar uma grande variedade de produtos no mercado doméstico. "Consumo é o setor que vai se beneficiar mais rapidamente do crescimento da economia", avalia Milena, da S&P.

As outras duas, entretanto, podem continuar sofrendo com a baixa demanda pelo insumo lá fora. As projeções da própria agência são conservadoras e Carvalho, da Fitch, afirma que não é esperada uma recuperação suficiente para compensar o alto endividamento e a grande alavancagem. "Mas as companhias têm sido eficientes em gerenciar neste cenário", acrescenta.

Mesmo nesse caso, a liquidez ainda estaria garantida. Com as capitalizações realizadas pelos grupos do setor, as obrigações com vencimento mais próximo estão, em grande parte cobertas. Além disso, na hora das renegociações e da rolagem de nova dívida, o perfil de crédito foi alongado, jogando para frente a maturação de grande parte dos papéis em poder do mercado. "O cronograma está muito bem administrado", garante Carvalho. (RR)

 

Ibovespa patina com Vale e Petrobras

Os números das empresas entre julho e setembro mostram que a situação é mais favorável para a economia principalmente na comparação com o segundo trimestre, mas o principal índice de ações da bolsa brasileira, o Ibovespa, não vem acompanhando a mesma tendência. Apesar de no período a alta ter chegado a 8,9%, assim que as demonstrações financeiras começaram a ser divulgadas, o índice reagiu com uma queda de 3,6%.

No acumulado de 2012, a situação também não é favorável ao Ibovespa, que está praticamente igual ao ano passado. O avanço do índice é de apenas 0,5% até a cotação de ontem, quando terminou em 57.064 pontos. Com quatro ações contando na carteira teórica ? tanto as ordinárias como as preferenciais ?, Petrobras e Vale têm contribuído em grande parte para esse mau humor.

A mineradora está sofrendo por causa do menor preço do minério de ferro, seu principal negócio, no mercado global. Ela registrou uma queda anual de 58% no lucro líquido do terceiro trimestre, até R$ 3,33 bilhões. A receita também caiu, se reduzindo em 19% para R$ 22,24 bilhões. Já a estatal petrolífera ficou com uma linha final do balanço em R$ 5,57 bilhões, uma baixa de 12% em 12 meses.

A bolsa em grande parte é movimentada por investidores estrangeiros que, como lembra Hamilton Alves, analista do BB Investimentos, exigem papéis com grande liquidez, ou seja, com alto número de negociações. "Por conta disso, as produtoras de commodities, principalmente, que respondem pela maior parte do Ibovespa, estão travando nossa bolsa", avalia.

O analista acredita que, por conta dessa queda, que seria exagerada em sua opinião, os ativos aqui no Brasil estão sendo cotados a um preço abaixo do que deveriam. "Apesar de todo esse desconto por causa do mau humor quanto aos insumos, o índice deveria estar acima dos 60 mil pontos, pelo menos. Hoje, se ele estivesse em 63 mil, não seria nenhum absurdo", acrescenta Alves.

Frente aos índices no exterior, que sofrem mais com o impacto da baixa demanda e de restrições de crédito, o desempenho do Ibovespa é bem pior. O Dow Jones Industrial Average, por exemplo, um dos principais do mercado americano, sobe 4,9% em 2012, enquanto o DAX 30, da bolsa de Frankfurt, avança 21,5%. As discrepâncias mostram que nem só os problemas da Europa e dos Estados Unidos tem sido responsáveis pelas perdas no Brasil.

Quando utilizado na comparação um índice com escopo maior, como o IBrX 100, que reúne as cem principais empresas listadas na Bovespa, a distorção se reduz. O avanço desde o começo do terceiro trimestre é de 4,7%, enquanto no ano são observados ganhos de 4,7%. Como o número de companhias presente no IBrX é maior, o peso de Petrobras e Vale se reduz em sua carteira.

William Alves, que é analista pela corretora XP Investimentos, lembra de outro problema que vem atingindo o mercado brasileiro ultimamente: a intervenção do governo. Além da Medida Provisória 579, que muda as regras para concessionárias de energia elétrica que queiram renovar seus direitos, há ainda o esforço da administração de Dilma Rousseff em reduzir os spreads bancários ? ou o ganho das instituições financeiras acima da taxa de juros ? e uma pressão sobre as operadoras de telefonia.

"Os resultados de Petrobras, Vale, siderurgia e bancos vieram todos abaixo do que o mercado esperava. Isso, somado à dúvida que paira no ar sobre novas intervenções estatais, também ajuda muito a segurar o índice", diz. (RR)

Fonte: Valor Econômico

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