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Os negócios sociais correm atrás de trabalho, ensina Yunus, Nobel da Paz

Muhammad Yunus esteve em São Paulo para inaugurar com a ESPM a primeira parceria na área de empreendimentos sociais na América Latina.

28/05/2013 09:26

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Os negócios sociais correm atrás de trabalho, ensina Yunus, Nobel da Paz

Prêmio Nobel da Paz de 2006, o bengalês Muhammad Yunus inaugurou nesta segunda-feira (27) em São Paulo uma parceria na área de empreendimento social. O Yunus ESPM Social Business Centre é resultado de um acordo entre a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e o Yunus Centre. O centro acadêmico de negócios sociais de Yunus é o primeiro do gênero na América Latina. 

Durante o evento, Yunus definiu negócios sociais como aqueles feitos pelas empresas que direcionem parte de seus ganhos para a solução de problemas humanos e mostrou de que forma ele podem ajudar a transformar a realidade sócio-economica de comunidades necessitadas, ainda que atinja um pequeno número de pessoas.

“Não se sinta ameaçado pela grandeza dos problemas, tente ver como sua ação reflete em um indivíduo”, aconselhou. “Se eu puder ser útil para um indivíduo, eu vou sentir útil na minha vida”.

Em sua palestra, o Premio Nobel também falou sobre seus projetos, como o Grammen Bank, que oferece microcrédito para a população de baixa renda em Bangladesh. Além do Grammen Bank, ele fundou cerca de 60 empresas destinadas a resolver diferentes problemas da região.

Yunus salientou que ter ideias é o primeiro passo para se abrir um negócio social. No entanto, só as ideias não são suficientes. É preciso estrutura e ter um alvo para que as iniciativas se concretizem. Segundo o banqueiro, para se criar um ambiente propicio ao desenvolvimento de negócios sociais, a união e a comunicação entre os países é fundamental, além da transformação de mentalidade social.

“O ponto-chave é a transformação de mentalidade. Os negócios tradicionais vão atrás do dinheiro, enquanto os negócios sociais correm atrás de trabalho”.

Impacto social

Os centros acadêmicos Yunus têm por objetivo incentivar e desenvolver iniciativas de negócios de alto impacto social ao redor do mundo e atualmente já estão presentes em sete países, como Japão, Coreia do Sul, Itália, Alemanha, Estados Unidos, França e Turquia. “Agora, interessa ao Yunus expandir este conceito para a America Latina”, afirma o diretor acadêmico da ESPM SP, coordenador da ESPM Social e diretor do Yunus Social Business Centre, Ismael Rocha.

Segundo o professor, os projetos na área de negócios sociais estão crescendo no Brasil e o papel do novo centro acadêmico será apoiar o avanço do setor, por meio da pesquisa e da incubação de novos projetos. Além de colaborar para a instrução de líderes “com formação e olhar em sustentabilidade”.

“Os projetos vêm crescendo, eles são uma forma de ter lucro e também de beneficiar a sociedade”, diz. “A existência do centro fará com que essas iniciativas possam se sistematizar e crescer”, explica Rocha.

De acordo com o último levantamento realizado pela Artemisia, uma das principais organizações fomentadoras de negócios sociais no País, em 2010 havia 140 empreendimentos deste tipo distribuídos pelo Brasil; 62 deles destinados a serviços financeiros, 13 ao artesanato, 14 a saúde, educação e cultura e o restante a outras atividades, como agricultura, tecnologia e turismo.

De 50 empresas analisadas pela Artemisia, 64% delas não dependem de doações e 36% dependem parcialmente – 90% destas dependem integralmente. Dos negócios consultados, 23 informaram que planejam levantar no máximo R$ 12 milhões até este ano, 15 esperam reunir mais de R$ 12 milhões e 12 não souberam responder.

Dentre os impactos sociais mais relevantes estão o aumento de renda ou produtividade de uma população e o acesso a educação e moradia, com empreendimentos que já beneficiaram mais de um milhão de pessoas. A pesquisa informa que os grupos sociais mais favorecidos são os que recebem de meio a dois salários mínimos por mês (72%), até meio salário mínimo por mês (60%) e de dois a cinco salários mínimos por mês (38%).

Negócios sociais no Brasil

Para Rocha, a escolha do País para sediar o primeiro centro acadêmico de negócios sociais da América Latina deve-se a sua cultura favorável, relacionada à criatividade e ao espírito empreendedor da população. “O brasileiro é empreendedor nato”, diz. “Solidariedade e participação coletiva são coisas muito nossa, da nossa cultura e da nossa formação. Além disso, o brasileiro trabalha muito empreendendo seus próprios negócios”, explica.

O professor, no entanto, chama atenção para as dificuldades de se desenvolver negócios sociais no Brasil, devido a falta de informações e orientações sobre o tema. ”Há uma quantidade maior de iniciativas que não foram mapeadas, como se fosse uma economia informal de negócios sociais”.

Negócios em ação

Dentre os negócios sociais atuantes no País está a Aoka, uma operadora de turismo sustentável que promove viagens pelo Brasil e o mundo, com o objetivo de aproximar pessoas e organizações de comunidades de baixa renda ou de lideranças sociais, promovendo experiências de aprendizado cultural entre elas.

Além das jornadas corporativas, a empresa trabalha com outros dois tipos de viagens: os tours (viagens sustentáveis de lazer) e as "learning journeys" – jornadas de aprendizado voltadas para um tema central, como meio ambiente ou educação. 

De acordo com um dos sócios fundadores da Aoka, Daniel Contrucci, estes modelos de viagens, principalmente as jornadas de aprendizado, permitem o conhecimento de projetos e iniciativas inovadoras que estão ocorrendo mundo afora. As empresas, explica Contrucci, valorizam cada vez mais este tipo de experiência, em busca de novas e grandes ideias. “As empresas estão passando por uma grande transformação. Todo mundo está tentando compreender melhor o mercado da classe C e olhando mais para os desafios globais, econômicos, ambientais e sociais”, afirma.

“Lideres têm sentido a necessidade de sair da empresa e ir a campo, conversar com as pessoas e entender a mentalidade de outros lideres e empreendedores sociais, para criar produtos que sejam aceitáveis e que gerem impactos positivos”.

Com o aumento da demanda, Contriccu ressalta que a empresa está em “plena ascensão nos últimos 12 meses”. Apenas com o mercado corporativo, o faturamento em 2012 foi de R$ 600 mil. Para este ano, a expectativa é arrecadar cerca de R$ 1.800 milhões. Já a margem de lucro, segundo o sócio, varia conforme o tipo de viagem. No caso das jornadas corporativas, o lucro pode chegar a 50%. Nos tours, a lucratividade é semelhante, enquanto que as learning jouneys não possuem fins lucrativos.

De acordo com Contrucci, a Aoka foi fundada em julho de 2010 e nos dois primeiros anos o projeto foi sustentado pelo capital disponibilizado pela Artemísia (R$ 40 mil), pelo prêmio de empresa inovadora recebido da Agência Brasileira da Inovação (R$ 120 mil) e pelos investimentos dos sócios. Somente no final de 2012, o dinheiro aplicado foi recuperado e a empresa começou a registrar dados positivos mensais.

“Estamos num momento de consolidação dentro do mercado coorporativo. Estamos contratando mais pessoas para expandir o atendimento e nossa expectativa é crescer mais na área de journeys”, explica. “A experiência é nosso produto hoje”, acrescenta.

Até hoje, a empresa já beneficiou 21 comunidades, 231 pessoas diretamente e 924 pessoas indiretamente e gerou cerca de R$ 250 mil em renda direta e indireta para populações locais do Brasil e no exterior. Além de promover a valorização cultural e a inclusão social. Quanto as vantagens para os turistas, Contrucci destaca: “Nós colocamos as pessoas em contato com parceiros que, de alguma forma, estão construindo um mundo melhor, como empreendedores sociais, moradores de comunidades e pessoas visionárias. Depois de conhecer esses exemplos , a gente devolve essa pergunta para o participante: qual o seu papel para um mundo melhor?”.

Outro exemplo de negócio social de sucesso é o Sementes de Paz, uma empresa de delivery de alimentos orgânicos, que faz a ponte direta entre o pequeno produtor e o cliente final. Ela foi fundada em 2008 e de inicio contou com o apoio da Artemísia (em questões jurídicas, orientações e plano de negócio) e com o investimento de seus sócios e idealizadores.

Hoje, a empresa atua em parceria com cerca de 50 produtores orgânicos, dentre eles, cooperativas com aproximadamente 2 mil famílias, a maioria localizados na região conhecida como “Cinturão Verde”, no interior de São Paulo.

Segundo Diogo Tolezano, um dos sócios do Sementes de Paz, a empresa “nasceu preocupada com a economia solidaria e o comercio justo” e dentre os impactos sociais gerados para as comunidades de pequenos produtores estão o auxílio na comercialização de produtos, as relações de trabalho de longo de prazo e o planejamento.

“A gente define o quanto vamos comprar dele [produtor ] durante cerca de seis meses”, explica. “Aproximadamente 55% do valor de cada pedido fica com o produtor”, completa. De acordo com Tolezano, desde 2008, todo o capital investido na empresa pertence aos sócios, totalizando R$ 350 mil. O valor, segundo ele, começará a ser recompensado a partir deste trimestre. “Agora a gente vai começar a gerar resultado positivo. A projeção é de que até o final do ano, nosso lucro liquido seja de 10% do faturamento”.

No início, a empresa recebia em média 50 pedidos semanais. Atualmente este número subiu para 250. Apesar do aumento das encomendas, a Sementes tem registrado taxas cada vez menores de crescimento. Em 2011, o crescimento foi de 50%. Em 2012, ele caiu para 30%. Para este ano, a expectativa é de que ele não ultrapasse os 20%.

Para o Tolezano, os principais fatores responsáveis pela redução do crescimento são a retração da economia brasileira e a presença de substitutos capazes de suprir as necessidades dos alimentos orgânicos. “Por conta destes fatores, não estamos apostando em um crescimento muito acelerado para 2013”, desabafa.

No entanto, as dificuldades não param por ai. O setor ainda enfrenta uma série de outros desafios que colaboram para a ineficiência da cadeia produtiva. Dentre eles, a ausência de investimentos em logística e tecnologia e o acesso restrito a créditos. Além da falta de valorização do mercado, já que o consumidor não está acostumado a sazonalidade e a aparência mais rústica dos produtos orgânicos.

“A escala de produção e consumo ainda é muito baixa, a cadeia é ineficiente e o produto acaba ficando muito caro na ponta”, afirma. “Nosso preço é em média 30% acima do preço do mercado. As folhas, por exemplo, são 30% mais caras e alguns outros produtos, como as frutas, são entre 50 e 100% mais caros”, complementa o sócio.

Fonte: IG E conômia

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